quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Decálogo do Leitor - Os 10 Mandamentos de um bom leitor


I - Nunca leia por hábito: um livro não é uma escova de dentes. Leia por vício, leia por dependência química. A literatura é a possibilidade de viver vidas múltiplas, em algumas horas. E tem até finalidades práticas: amplia a compreensão do mundo, permite a aquisição de conhecimentos objetivos, aprimora a capacidade de expressão, reduz os batimentos cardíacos, diminui a ansiedade, aumenta a libido. Mas é essencialmente lúdica, é essencialmente inútil, como devem ser as coisas que nos dão prazer.

II - Comece a ler desde cedo, se puder. Ou pelo menos comece. E pelos clássicos, pelos consensuais. Serão cinqüenta, serão cem. Não devem faltar As mil e uma noites, Dostoiévski, Thomas Mann, Balzac, Adonias, Conrad, Jorge de Lima, Poe, García Márquez, Cervantes, Alencar, Camões, Dumas, Dante, Shakespeare, Wassermann, Melville, Flaubert, Graciliano, Borges, Tchekhov, Sófocles, Machado, Schnitzler, Carpentier, Calvino, Rosa, Eça, Perec, Roa Bastos, Onetti, Boccaccio, Jorge Amado, Benedetti, Pessoa, Kafka, Bioy Casares, Asturias, Callado,Rulfo, Nelson Rodrigues, Lorca, Homero, Lima Barreto, Cortázar, Goethe, Voltaire, Emily Brontë, Sade, Arregui, Verissimo, Bowles, Faulkner, Maupassant, Tolstói, Proust, Autran Dourado, Hugo, Zweig, Saer, Kadaré, Márai, Henry James, Castro Alves.

III - Nunca leia sem dicionário. Se estiver lendo deitado, ou num ônibus, ou na praia, ou em qualquer outra situação imprópria, anote as palavras que você não conhece, para consultar depois. Elas nunca são escritas por acaso.

IV - Perca menos tempo diante do computador, da televisão, dos jornais e crie um sistema de leitura, estabeleça metas. Se puder ler um livro por mês, dos 16 aos 75 anos, terá lido 720 livros. Se, no mês das férias, em vez de um, puder ler quatro, chegará nos 900. Com dois por mês, serão 1.440. À razão de um por semana, alcançará 3.120. Com a média ideal de três por semana, serão 9.360. Serão apenas 9.360. É importante escolher bem o que você vai ler.

V - Faça do livro um objeto pessoal, um objeto íntimo. Escreva nele; assinale as frases marcantes, as passagens que o emocionam. Também é importante criticar o autor, apontar falhas e inverossimilhanças. Anote telefones e endereços de pessoas proibidas, faça cálculos nas inúteis páginas finais. O livro é o mais interativo dos objetos. Você pode avançar e recuar, folheando, com mais comodidade e rapidez que mexendo em teclados ou cursores de tela. O livro vai com você ao banheiro e à cama. Vai com você de metrô, de ônibus, e de táxi. Vai com você para outros países. Há apenas duas regras básicas: use lápis; e não empreste.



VI - Não se deixe dominar pelo complexo de vira-lata. Leia muito, leia sempre a literatura brasileira. Ela está entre as grandes. Temos o maior escritor do século XIX, que foi Machado de Assis; e um dos cinco maiores do século XX, que foram Borges, Perec, Kafka, Bioy Casares e Guimarães Rosa. Temos um dos quatro maiores épicos ocidentais, que foram Homero, Dante, Camões e Jorge de Lima. E temos um dos três maiores dramaturgos de todos os tempos, que foram Sófocles, Shakespeare e Nelson Rodrigues.

VII - Na natureza, são as espécies muito adaptadas ao próprio hábitat que tendem mais rapidamente à extinção. Prefira a literatura brasileira, mas faça viagens regulares. Das letras européias e da América do Norte vem a maioria dos nossos grandes mestres. A literatura hispano-americana é simplesmente indispensável. Particularmente os argentinos. Mas busque também o diferente: há grandezas literárias na África e na Ásia. Impossível desconhecer Angola, Moçambique e Cabo Verde. Volte também ao passado: à Idade Média, ao mundo árabe, aos clássicos gregos e latinos. E não esqueça o Oriente; não esqueça que literatura nenhuma se compara às da Índia e às da China. E chegue, finalmente, às mitologias dos povos ágrafos, mergulhe na poesia selvagem. São eles que estão na origem disso tudo; é por causa deles que estamos aqui.

VIII - Tente evitar a repetição dos mesmos gêneros, dos mesmos temas, dos mesmos estilos, dos mesmos autores. A grande literatura está espalhada por romances, contos, crônicas, poemas e peças de teatro. Nenhum gênero é, em tese, superior a outro. Não se preocupe, aliás, com o conceito de gênero: história, filosofia, etnologia, memórias, viagens, reportagem, divulgação científica, auto-ajuda – tudo isso pode ser literatura. Um bom livro tem de ser inteligente, bem escrito e capaz de provocar alguma espécie de emoção.

IX - A vida tem outras coisas muito boas. Por isso, não tenha pena de abandonar pelo meio os livros desinteressantes. O leitor experiente desenvolve a capacidade de perceber logo, em no máximo 30 páginas, se um livro será bom ou mau. Só não diga que um livro é ruim antes de ler pelo menos algumas linhas: nada pode ser tão estúpido quanto o preconceito.

X - Forme seu próprio cânone. Se não gostar de um clássico, não se sinta menos inteligente. Não se intimide quando um especialista diz que determinado autor é um gênio, e que o livro do gênio é historicamente fundamental. O fato de uma obra ser ou não importante é problema que tange a críticos; talvez a escritores. Não leve nenhum deles a sério; não leve a literatura a sério; não leve a vida a sério. E faça o seu próprio decálogo: neste momento, você será um leitor.


Como eu disse no começo do tópico, não acredito em regras para se tornar ou formar um bom leitor, mas estes 10 "mandamentos" são bem interessantes e práticos, e podem servir para nortear e guiar leitores iniciantes (ou até mesmo experientes) rumo a um desenvolvimento literário mais crítico e apurado. 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Da série curiosidades: Rapaz abre uma livraria para vender seu próprio livro!


Descontente com a atual situação do mercado editorial norte-americano, Andrew Kesller simplesmente resolveu ter a ideia de abrir uma livraria para comercializar apenas o seu próprio livro, é isso mesmo amigo leitor, o cara abriu uma livraria para vender apenas o seu amado livro.
Kesller escreveu seu livro, Martian Summer, depois de passar 90 dias com 130 cientistas da NASA que estavam envolvidos na missão de mapear o pólo norte do planeta Marte. Na obra o autor relata o drama e as dificuldades destes homens, tudo sempre com uma pitada de bom humor. Por ser novato no meio, avesso a escândalos para chamar a atenção e por considerar o mercado "prostituído", ele resolveu se lançar nesta empreitada com a cara e a coragem.
Andrew Kesller teve dia e hora para começar e acabar suas atividades de livreiro, a livraria inaugurou no dia 12 de abril e fechou no dia 16 de maio. Isso por que o aluguel do local era muito caro e ficaria difícil bancar todas as despesas sozinho. O estoque total da loja era de 3000 mil exemplares, e Kesller acredita ter vendido algo em torno de 500 cópias nas 4 semanas de atividade de seu negócio, cada livro custava R$45.

 
Andrew Kesller na fachada da sua loja.

Apesar de brincar um pouco com a situação, gostei da atitude deste cara. Por ser diretor de criação em uma agência publicitária, muitos entenderam esta manobra de Kesller como uma "jogada de marketing", pode até ser, mas não podemos deixar de considerar que foi uma ideia muito corajosa, criativa e também polêmica, pois além de ter gerado uma discussão no meio, foi um tapa na cara do mercado editorial. É como se com este posicionamento ele quisesse dizer: "Olha, escrevi meu livro e não preciso de vocês para publicá-lo e vendê-lo." Infelizmente os editores, não só nos Estados Unidos e Brasil, este movimento é mundial, deixaram de ser editores e transformaram-se em executivos/homens de negócio, a preocupação com o livro/autor, ficou em 10º plano, eles só têm olhos agora para o dinheiro, e isso é preocupante.
Temo pelo futuro do nosso mercado, quero só ver onde esta obsessão pelo dinheiro/lucro vai terminar.
E você amigo leitor gostou da ideia deste autor, já tinha visto algo parecido? Como reagiria ao entrar em uma livraria e encontrar apenas o mesmo livro?
E você escritor, teria coragem de fazer algo similar para vender seus livros e chamar a atenção do mercado?

Essa matéria foi retirada de O Vendedor de Livros, um blog sobre temas atuais aos apaixonados por livros. O que me motivou a publicá-la em meu blog foi a coragem desse rapaz em tomar uma atitude drástica e a constatação de que infelizmente essa é a realidade do mercado editorial. Sinto muito por não ter dado certo essa ideia.